domingo, 3 de julho de 2011

Moradores em área de risco no Rio participam de teste de desocupação

Cerca de 8 mil famílias participaram de exercício às 10h deste domingo (3).

Objetivo é prevenir acidentes em caso de chuvas fortes.

Às 10h deste domingo (3) cerca de 8 mil famílias que moram em áreas de alto risco de desabamento na cidade do Rio de Janeiro ouviram o alarme de sirenes tocarem: “Há risco de deslizamento nesta área. Dirija-se para locais seguros e pontos de apoio”. Esta era a mensagem repetida no alto-falante. O treinamento de desocupação, realizado pela prefeitura do Rio, foi feito em 20 comunidades. Em 2010, as chuvas de abril deixaram mais de 40 pessoas mortas.

No Morro da Formiga, na Tijuca, Zona Norte do Rio, o prefeito Eduardo Paes participou da simulação neste domingo. No ano passado, três pessoas morreram no local. Nesta região, 120 agentes comunitários orientaram 340 famílias a deixarem suas casas. "Nossa prioridade é salvar vidas", disse Paes.
O teste começou às 9h, quando líderes comunitários recebem no celular – aparelho cedido pela prefeitura, especialmente para este trabalho - uma mensagem alertando sobre a chegada de fortes chuvas. Às 9h55 uma nova mensagem confirma que haverá “evento severo”. Todos que vivem em área de alto risco devem, então, deixar suas casas imediatamente e se ir para um dos cinco pontos de apoio do Morro da Formiga. Às 11h um outro alarme de sirene foi tocado, informando que voltou à normalidade e os moradores podiam retornar às suas casas. No total, foram definidos 92 pontos de apoio nas 20 comunidades testadas. Os locais geralmente são escolas e igrejas.
Moradores em área de risco no Rio participam de teste de desocupação (Foto: Carolina Lauriano/G1) 
O prefeito Eduardo Paes desce o morro com uma das moradores que participou do teste de desocupação neste domingo (3) (Foto: Carolina Lauriano/G1)
O Sistema de Alerta e Alarme começou a ser testado em janeiro, no Morro do Borel, após a prefeitura apresentar um estudo da Geo-Rio, indicando que 18 mil famílias moravam em áreas de alto risco no Rio. O sistema é acionado caso a Defesa Civil identifique que as chuvas chegaram a 40 milímetros por hora, quando ainda é um nível seguro para as pessoas desocuparem os imóveis.
Alan participou do teste de desocupação no Rio (Foto: Carolina Lauriano/G1) 
Alan, morador do morro, viu a parede de seu quarto
desabar (Foto: Carolina Lauriano/G1)
Moradores ainda resistem
Em abril deste ano o sistema foi testado em 11 comunidades. Nenhum óbito foi registrado. O dançarino Alan Pereira da Silva, de 25 anos, morador da Formiga, contou que ouviu a sirene mas não deu importância. Acabou saindo às pressas quando viu a parede do quarto onde estava com a mulher e os dois filhos desabar. Segundo ele, por sorte ninguém ficou ferido. “Não faça que nem eu”, disse ele, mandando o recado para os vizinhos.

Uma das dificuldades da Prefeitura é que a comunidade acredite no sistema. Para Alan, o grupo ainda esta dividido. “Tem gente que acredita e tem gente que ainda não acredita”, disse ele.

“Nossa estratégia é de convencimento”, afirmou o subsecretário municipal de Defesa Civil, Márcio Motta.  Paes disse que este é o momento de treinar. “A resistência é normal, isso é novo para eles” disse o prefeito. "A gente pede para que as pessoas acreditem. Quando a sirene tocar, é para sair de casa", completou.

Só sirene não basta, diz moradora
Cristiane Maria da Conceição foi uma das que deixaram a residência neste domingo, durante a simulação. Ela mora em uma área de alto risco de deslizamento na Formiga, com três filhos e ainda uma irmã que também tem três filhos. “A iniciativa é boa, que salva vidas, mas é bom que não fique só nisso. Não adiante só tocar a sirene”, disse ela.
Cristiane participou do teste de desocupação em morro do Rio (Foto: Carolina Lauriano/G1) 
Cristiane e Jorge moram em área de alto risco e
participaram do teste (Foto: Carolina Lauriano/G1)
A moradora explicou que há mais de dois anos vive na mesma casa, com os mesmos riscos. A irmã se juntou a ela depois que perdeu a casa na chuva de abril do ano passado. Para ela, é preciso que haja reassentamentos. “Eu não queria sair daqui porque gosto muito da minha comunidade, mas te nho que pensar na minha segurança, então eu sairia sim”, afirmou.
O cunhado dela, Jorge de Jesus, que mora na casa ao lado, acredita que as sirenes são um avanço. “Em 88 eu perdi tudo. Se tivesse essa sirene na época seria diferente”, disse. Mas, segundo a prefeitura, o foco principal é a contenção de encostas, e não o reassentamento das pessoas.
De acordo com a prefeitura, até outubro esse sistema estará instalado em 60 comunidades, que contemplam 15 mil famílias das 18 mil que estão em áreas de alto risco na cidade. Ainda segundo a prefeitura, todas as comunidades mapeadas pela Geo-Rio contam com representantes treinados. A ideia é que até o fim de 2011 os agentes realizem simulados mensalmente.
Moradores que participaram fazem fila para cadastro da defesa civil (Foto: Carolina Lauriano/G1) 
Moradores que participaram da simulação fazem fila para cadastro da Defesa Civil (Foto: Carolina Lauriano/G1)
FONTE:G1

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