quinta-feira, 1 de março de 2012

Natal deixa de reciclar e volta a ter lixão

Irregularidade da coleta faz capital regredir em pelo menos sete anos
Maiara felipe // maiarafelipe.rn@dabr.com.br
A irregularidade da limpeza urbana de Natal levou a atividade a regredir pelo menos sete anos, voltando para 2004, quando o lixão do bairro de Cidade Nova funcionava "a todo vapor", prejudicando ambientalmente a área. A situação é grave ao ponto do percentual de lixo reciclado ter se tornado praticamente inexistente na capital e uma boa parcela das pessoas que faziam a coleta seletiva ter sido obrigada à degradante atividade de catar detritos em um ambiente sem nenhum padrão de cuidado com a saúde dos que lá trabalham.


Acúmulo de resíduos no lixão do bairro de Cidade Nova está prejudicando o meio ambiente Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press
Para se ter ideia da situação, há dois anos o percentual de lixo reciclado girava em torno de 1% e hoje está em cerca de 0,25%. Os atrasos nos pagamentos das empresas prestadoras de serviço da Urbana resultou no acúmulo de resíduos no lixão de Cidade Nova, que deveria funcionar apenas como estação de transbordo do lixo, a ser enviado para o aterro sanitário de Ceará-Mirim.

Cerca de 80 catadores estão sem trabalhar por falta de condições de fazer a coleta. Sem emprego, muitos deles, somado a outro montante de carroceiros, estão encontrando sustento no lixão desde novembro de 2010. Um trabalho feito de forma degradante, realizado na maioria das vezes no período da noite, na hora que ninguém está vendo e não há fiscalização.

Quando começou, no ano de 2002, a Associação de Catadores de Material Reciclável (Ascamar) deu início às suas atividades junto com a cidade de Londrina e chegaram a virar exemplos nacionais no trabalho de coleta seletiva. Hoje, quase 10 anos depois, Londrina é reconhecida internacionalmente pela atuação nessa área, reciclando 25% de todo lixo da cidade, e Natal saiu do índice de 1% para 0.25%.

Ao longo dos anos, muitas associações surgiram na capital potiguar e deram origem a Cooperativa de Catadores de Material Reciclável (Cocamar) e à Cooperativa de Material Reciclável (Coopcicle). Segundo o coordenador da coleta seletiva da Cocamar, José Anderson Vicente Maia, os trabalhos na coleta seletiva eram feitos com 16 caminhões, empregavam180 catadores e o serviço era prestado com regularidade nos bairros.

"A situação começou a mudar em outubro do ano passado", relatou Anderson. Nesse período, as cooperativas já contavam com apenas 10 carros, e conseguiam recilar 0,5% do lixo de Natal. Com o atraso de seis meses no pagamento dos proprietários dos caminhões, valor que gira em torno de R$ 100 mil, o serviço foi suspenso. Apenas um caminhão, que é de propridade da Cocamar, ficou funcionando. "A Prefeitura nunca colocou uma gota de combustível para ajudar nessa época", lembrou Anderson. A Urbana não tem contrato com os catadores. O que eles retiram do lixo é a única fonte de renda. A contribuição do município para esse serviço é oferecer o fardamento, os caminhões, e os equipamentos de proteção individual. Desde 2009, o fardamento foi entregue apenas uma vez, o que deveria ser realizado a cada seis meses. O caminhões voltaram a ser pagos há menos de um mês, e hoje são seis, três para cada cooperativa e não há equipamentos de proteção individual.Melhorias

Anderson afirma que no último mês ocorreu alguma melhorias. A volta dos poucos caminhões permitiu o retorno de 10 pessoas ao trabalho. Ele diz que é inevitável que alguns catadores voltem ao lixão, apesar de afirmar que a maioria é carroceiro. "Conversamos com o nosso pessoal para não fazer isso e a maioria compreendeu", esclareceu. Informações dão conta de que as catações nas montanhas de lixo acontecem durante a noite, horário que não há fiscalização da Urbana. Um dos atrativos de quem vai catar lixo é o valor que pode ser arrecadado. Há quem ganhe R$ 500 por semana com o que tira do lixão. Os catadores da coleta seletiva estão ganhando em torno de R$ 300 por mês.

Há muito anos trabalhando dentro do antigo lixão, a primeira vez como carroceiro e depois como integrante da coleta seletiva, José Paulírio Vicente diz que nunca passou por situação pior que a atual. "Essa esteira está quebrada há quatro anos", apontou. José tem esperança que a Prefeitura irá apoiar o trabalho da coleta seletiva e que ele poderá se aponsentar com dignidade.

O diretor-presidente interino da Urbana, Sérgio Pinheiro, diz que a Urbana tem planos para a coleta seletiva. " Eles estão com sete caminhões e nós vamos contratar o caminhão deles. Vamos também estruturar os galpões, capacitar os catadores e já existe a minuta para fazer a contratação das cooperativas", garantiu. A ideia da Urbana é continuar com a coleta seletiva porta a porta. Isso faz com que a esteira parada há quatro anos não seja mais usada, embora ele garanta que o equipamento será consertado. " As experiências de coleta seletiva que foram feitas em esteira não deram certo", afirma Sérgio.
FONTE:Tribuna do Norte

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