sábado, 4 de junho de 2011

'Se eu voltar, sei que vou morrer', diz agricultora que fugiu de assentamento

Mulher consta em lista de ameaçados de morte elaborada pela CPT.

Ela conhecia líder assassinado em RO; 'ele pediu pra eu tomar cuidado'.

Assentamento Gedeão, no sul do Amazonas (Foto: Arquivo pessoal) 
Assentamento Gedeão, no sul do Amazonas
(Foto: Arquivo pessoal)
No último dia 10, a agricultora Nilcilene Miguel de Lima fugiu do assentamento PDS Gedeão, no sul do Amazonas, onde vivia há sete anos. Deixou o marido e a casa, saiu enrolada num lençol e entrou no carro de um vizinho que acreditava estar levando uma mulher grávida a um hospital para dar à luz. Agora está escondida.
“Se eu voltar, sei que vou morrer. Sei que quem manda lá são eles. Sei que os madeireiros são uma organização lá muito forte e muito perigosa”, diz.
Nilcilene está ameaçada de morte desde o ano passado – o nome dela consta na lista que a Comissão Pastoral da Terra prepara e divulga dentro de um relatório anual sobre conflitos no campo.
Ela relata que foi espancada em junho do ano passado. Foi procurar as autoridades e, quando voltou, encontrou a casa e as plantações queimadas. Continuou no local até que, no início do mês passado, foram feitas apreensões de motosserras e um caminhão no assentamento. A partir daí, passou a ser suspeita de ter feito a denúncia.
“Não fui eu que denunciei, mas acham que fui eu. Em qualquer apreensão de madeira que tiver, tem que morrer uma liderança porque eles acham que foi uma liderança [que denunciou]”, diz.
Dias depois da fuga, ficou sabendo que um conhecido havia sido assassinado. Era Adelino Ramos, o Dinho, que coordenava o Movimento Camponês Corumbiara e presidia a Associação Camponesa do Amazonas. “Antes de sair do assentamento, tinha conversado com ele fazia pouquinho tempo. Ele disse que estava correndo perigo porque tinha denunciado os madeireiros. E ainda pediu para eu tomar cuidado.”
Pelo telefone, ela relatou ao G1 a situação da região. Veja abaixo os principais trechos da conversa:
 Vida de assentada
“Quando nasci, meu pai cortava seringa em Xapuri (no Acre). Fomos expulsos e fomos pra Bolívia. Depois, casei e arranjamos uma terra no Acre. Meu marido era conhecido por Chico Seringueiro. Ele foi morto por causa de grileiros. Fiquei com meus filhos pequenos. Foi muito sofrido. Depois, voltei a cortar seringa no ramal do Pelé, no Acre. Os madeireiros começaram a expulsar as pessoas de lá e tive que sair. Era muito nova e tinha muito medo. Casei de novo e morei quase 12 anos em Rondônia, numa terra que era da minha sogra. Fui para um acampamento depois. Meu sonho era uma terrinha pra mim, para plantar, não para explorar. Tinha seis mil pés de café e de banana. Tinha reflorestado tudinho com açaí, jatobá, copaíba.”
Conflitos no assentamento
“Estou lá no assentamento há sete anos. O PDS Gedeão tem esse nome porque o rapaz que estava lutando por nós foi morto. (...) Pedi uma vistoria do Incra porque o benefício do crédito do fomento foi dado mais pra quem não tinha terra, para aqueles que tinham comércio, que moravam em outro estado. Achei aquilo um absurdo. A maior parte das pessoas que pegaram o benefício lá não tinha terra. (...) Quem manda lá são os madeireiros. Chegaram a tirar madeira de mim e mandaram perguntar se eu tinha achado ruim, e eu disse: “não senhor, mas de jeito nenhum”. Se você achar ruim, você morre. Lá, as pessoas têm muito medo. (...) Me bateram no dia 4 de junho. Depois de oito dias foram lá em casa, armados. Ia correr, mas não aguentei, minhas pernas tremiam. Eles falaram ‘não vamos te matar hoje não, vamos esperar até agosto’. Aí fui pra Lábrea, fui para o Ministério Público, procurar a Justiça. Quando estava lá, tive a notícia que tinham queimado tudo que era meu. Agora é a minha vida que eles querem.”
Fuga
“O Ibama entrou lá (no assentamento) e apreendeu três motosserras e um caminhão. Eles (madeireiros) acharam que era eu. (...) Minha cunhada tinha dormido na minha casa. Quando ela foi sair, tinha um cara na frente da minha casa. Ele disse que estava há três dias me esperando e que ela estava atrapalhando ele me matar. Falou que ia me matar devagarzinho, quebrar um braço, quebrar outro, quebrar uma perna. E ameaçou minha cunhada. ‘Ela vai morrer de qualquer jeito. Se você avisar, vai morrer você, sua filha e vou colocar fogo na sua casa’. (...) Quando ela me contou, pedi pra meu esposo chamar os vizinhos para me ajudar a sair de lá. Os vizinhos foram atrás de um carro, mas se o dono do carro soubesse que nós estávamos sendo ameaçados de morte, ele não trazia. A gente teve que dizer que minha cunhada estava para ganhar nenê. Saí enrolada num pano e o pessoal fez parede pra eu poder sair. (...) Procurei a Polícia Militar de Nova Califórnia, mas lá eles não fazem boletim. Fui na Delegacia da Polícia Civil de Extrema (em Rondônia) e eles disseram que não era obrigação deles porque lá era outro estado. Fizeram o boletim, mas não quiseram colocar o nome do madeireiro. Disseram que eu falo demais.”
Madeira
“Não tem quase mais madeira lá no assentamento. Já tiraram quase todas. Aqueles que não vendem, eles (madeireiros) vão lá e tiram na marra. Se reclamar, morre. Os madeireiros são os donos de lá. Não tem presença do Estado, de ninguém. As pessoas têm muito medo, ficam intimidadas.”
Revolta
“Nós lutamos pra defender o meio ambiente. Você acredita que não aparece ninguém pra defender o meio ambiente? Eu apanhei, fiquei toda roxa de tanta porrada que eu tomei. Não acredito mais em nada. Estou desesperada. Se eles forem me matar, não vou deixar. Eu mesma vou me matar porque sei que, se me pegarem, vou sofrer muito na mão deles, vão me judiar muito. Já apanhei, já perdi tudo. Ninguém faz nada. A gente luta, a gente dá a vida da gente e eles não estão nem aí. O meu sonho era ter um lugar para morar.”
Governo diz que analisa caso
Procurada pelo G1, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República informou que o caso está sendo analisado, assim como os demais nomes incluídos na lista entregue pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).  Após a análise, as pessoas poderão ser incluídas em algum dos programas de proteção e receber escolta policial.
O Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Amazonas disse que há um processo na Justiça para a retomada de uma área dentro do assentamento que está sendo reivindicada por um terceiro. O órgão afirmou que tem denúncias e relatórios sobre a presença de pequenos agricultores que ocupam a área irregularmente e disse que pretende fazer nova vistoria na região, mas que não há previsão para isso.
A reportagem também procurou a Ouvidoria Agrária Nacional e a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas e aguarda resposta.
FONTE:G1

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